sexta-feira, 6 de maio de 2011

Um em cada cinco espanhóis acredita em videntes ou astrólogos


O consultório fica em um apartamento no elegante bairro de Salamanca, em Madri. É um escritório discreto que divide com uma imobiliária e um advogado. Na decoração sóbria, apenas alguns detalhes orientais e um pôster com as constelações. Sobre a mesa, nem velas pretas nem bola de cristal: há um computador portátil e dois telefones celulares aos quais os clientes mandam mensagens para marcar sessões de 65 euros para que leiam suas cartas.

Odeio a palavra 'vidente', sou uma orientadora. Não tenho poderes, mas uma sensibilidade especial, uma empatia que existe em minha família desde minha tataravó", diz a cartomante, uma jovem holandesa que prefere não dar seu nome. Não quer publicidade. Há 15 anos atende só graças ao boca a boca. A discrição é fundamental, porque por suas mãos passam políticos, famosos, médicos, advogados e "inclusive religiosos". "Aqui vem gente de todos os estratos sociais e culturais", diz. Um possível cliente se aproxima do consultório. Não acredita "nessas coisas", mas acha "divertido", tem amigos que o fizeram e contam coisas incríveis sobre a intuição dessa mulher "que não se diz bruxa". Também a respeita porque disseram que é "viciante". É um homem de cerca de 30 anos, sofisticado, ateu e economista. Segundo as pesquisas, tem todas as credenciais para ser um cético, mas está aqui. Não é um bicho raro: um em cada cinco espanhóis dá crédito a "essas coisas".

Astrologia
Na última pesquisa de Metroscopia para medir o Pulso Social da Espanha, foi incluída a seguinte pergunta: "Atualmente, muita gente se interessa por curandeirismo, astrologia, tarô ou vidência. Para alguns, essas atividades são simples charlatanismo, superstições sem fundamento que não merecem crédito. Outros, porém, consideram que podem ser formas alternativas de explorar e explicar o mundo e que, à sua maneira, são tão válidas e respeitáveis quanto a ciência. Com qual dessas duas opiniões você tende a concordar mais?" A grande maioria - 76% - dos pesquisados disse que eram invenções, mas "contudo, a verdade é que cerca de 20% lhes têm consideração". Ainda maior é a fé em amuletos e talismãs: 48% dos espanhóis acreditam que têm "alguma influência sobre os acontecimentos que os afetam".

Manuel Toharia, diretor científico da Cidade das Artes e Ciências de Valência e um cético combativo, não se impressiona com os dados. "Eu esperava que os crédulos fossem muito mais que 20%", diz, "apesar de as pessoas mentirem diante de uma pergunta assim; respondem o politicamente correto". E por que são tantos? "No ser humano há uma parte de racionalidade, que nos obriga a seguir pela direita na estrada, que nos faz ler a letra miúda da hipoteca, mas também há uma parte, embora poderosa, daquele macaco esperto que se escondia das tempestades e tinha medo de tudo o que não conseguia explicar. 


"Gostamos mais de pensar em uma solução provável mas fantasiosa do que buscar uma racional, inclusive muitos céticos no final caem no 'não creio em bruxas, mas elas existem...'", responde o físico. Além da porcentagem, a pesquisa dá outro dado relevante: "O maior nível educacional só modula, mas de modo algum anula, a propensão a lhes atribuir credibilidade: esse tipo de prática constitui ciências alternativas para 24% dos espanhóis com nível de estudos mais baixo, mas também para 16% dos que têm nível de estudos mais elevado". "E a necessidade de buscar seguranças mágicas é tão velha quanto o homem, e estudar direito não explica como funciona a matéria", opina o filósofo laicista Fernando Savater. "As crenças esotéricas não dependem de ter ou não estudos, porque a informação ordenada informa, mas não ensina a pensar. Se até a ministra da Saúde usava a pulseira do holograma!", diz Savater, referindo-se à Power Balance usada por Leire Pajín e que foi denunciada como fraude pela associação de consumidores Facua.
Adaptado, El País
Patricia Gosálvez
Tradução: Luiz Roberto Mendes Gonçalves

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