sábado, 7 de maio de 2011

Entrevista Parte I: Veja a seguir a primeira parte da entrevista com a professora de espanhol Rosilei Justiniano da UnB

Professora Rosilei, Elizabete, Gisele, Marcos e a orientadora Rejane Rodrigues.
Como primeira atividade prática do projeto, ontem (06/05), os alunos Marcos Roberto, Elizabete e Gisele foram à UnB para uma entrevista com a professora Rosilei Justiniano, que leciona a disciplina de Estágio Supervisionado de Língua Espanhola 1, do curso de Letras - Espanhol, do LET (Departamento Línguas Extrangeiras e Tradução). A nossa professora orientadora, Rejane Rodrigues já foi aluna da professora entrevistada durante a sua graduação, veja a seguir as informações importantes que a entrevistada nos proporcionou.

1. Há todo um conflito a cerca de qual termo usar para se designar a cultura dos países que têm o espanhol como língua oficial, em sua opinião, qual o termo mais correto?
"Cultura Hispânica, por que o termo espanhol ele na verdade, é um termo mais moderno, do que o castelhano, a palavra castellano dá a origem do que hoje é o termo espanhol, por que quando esta língua se formou como língua neolatina, assim como o português, não existia o país Espanha, eram apenas reinos, um deles era o Reino de Castilla, de onde se originou o que hoje é o espanhol, então a partir dessa língua castellana, que os países daqui da América do Sul, que hoje em dia falam espanhol, foram colonizados e trouxeram a língua, por isso países vizinhos ao Brasil dizem "hablamos castellano y no español", mais o termo é o mesmo, mas recomenda-se o "Diccionario Panhispánico" que se use a palavra espanhol, por que ela é mais genérica. Na Espanha, se você usar o termo língua castellana, significa a língua de uma determinada região, e já na América eles preferem usar o termo língua castellana por que o termo espanhol parece que é próprio da Espanha, e castellano ninguém mais lembra de Castilla, então é uma língua que não tem um dono específico, mas o termo usado por professores, e escolas, ainda é espanhol."

2. O sociólogo Gilberto Freyre considera o Brasil como um país "pan-hispânico", que participa da cultura hispânica, você concorda com essa afirmação?
"Nós temos muitas coisas em comum, mas nós temos uma cultura diferente, nós não falamos espanhol por exemplo. Eu diria que somos culturas 'irmãs'.

3. Para você o que é a "Cultura Hispânica"?
"A Cultura Hispânica é a cultura que representa os países que falam espanhol, então qualquer país que tem a língua espanhola como língua materna, tudo que eles produzirem vai ser cultura hispânica, é claro que a cultura varia de uma região para outra,  mas a cultura é a deles, os hábitos, costumes, literatura, folclore. Pelo fato deles falarem espanhol, tudo que eles produzirem é cultura hispânica, produzida na Bolívia e nas suas regiões tanto quanto produzida na Espanha, apesar de cada lugar ter interferência de outras línguas, como em Catalunha na Espanha, mas eles não deixam de usar a língua espanhola, então eles não deixam de produzir cultura hispânica, é a mesma coisa de algumas regiões da Bolívia que tem o 'quíchua' mas eles não deixam de usar o espanhol."

4. Por que você se interessou em estudar a língua espanhola?
"No meu caso, por que eu gosto de línguas extrangeiras em geral, talvez seja pelo fato de eu ter crescido em um ambiente meio meio de 'Babel', meu pai é grego, minha mãe boliviana, e quando ela veio para o Brasil ela não falava português e meu pai falava um 'portunhol', por que morava entre o Brasil e a Bolívia, na fronteira, e como ele era falante de uma outra língua, o grego, pra ele o português e o espanhol era a mesma coisa, ele não sabia distinguir, então tudo isso já me despertou desde cedo observar as diferenças de línguas e eu ficava prestando atenção no que eu iria falar é português ou espanhol e eu gostei quando eu comecei a estudar inglês na escola eu me identifiquei, sempre gostei de línguas, todas as línguas estrangeiras, eu gosto muito de culturas diferentes, viver as diferenças, a comunicação entre as pessoas, eu me interesso por culturas que eu nunca conheci, por exemplo as culturas que eu menos conheço são as orientais e isso me interessa muito, não só a língua, mais também o modos diferentes de se expressarem, pra mim é um tema apaixonante."


"Conversar com uma profissional da UnB foi muito produtivo" enfatiza a aluna  Elizabete, que também esteve presente na envrevista.
5. Você mantém contato com pessoas nativas da cultura?
"Sim, inclusive convivo com uma diariamente, em casa, com um espanhol e eu vejo programas espanhóis, eu acho que pra uma pessoa que aprende uma língua, ela tem que mergulhar na cultura, por isso eu acho que vocês acertaram plenamente, no sentido de absorver, de fazer parte do seu dia dia, pra você entender você precisa conhecer e pra você entender a língua você tem que entender a cultura. Por exemplo uma piada, que é mais claro, você só consegue entender a piada, quando você entende tudo que está por trás daquilo, tudo que não é tão literal, então se a piada se refere ao contexto político do momento então você acha graça, se você entende o contexto, você entende a piada. Igual as tiras da Mafalda? Ela é mais no sentido universal, tanto é que ela é traduzida para outras línguas, eu não conheço muitas, mais os que eu conheço tem um valor reconhecido internacionalmente, é meio filosófico. Mais isso que você me perguntou, não convivo só com pessoas, mais também assisto séries de televisão, assisto jornal, mais da Espanha, embora eu tenha família na Bolívia, mas como eu convivo com uma pessoa espanhola e recentemente passei 4 anos e meio na Espanha, então eu acho que não perdi esse vínculo, e ainda estou um pouco ligada a coisas que eu costumava fazer, determinados programas, jornais, séries, eu gosto de humor, então eu assisto diariamente esse tipo de programação, e na verdade eu não tenho TV a cabo, eu baixo da internet e assisto."

6. Você conhece outros países além da Espanha? Quais os costumes mais marcantes destes lugares que você já visitou? 
"Minha mãe é boliviana, então eu ia muito pra Bolívia, e toda a família dela mora lá, então na verdade a minha primeira ligação telefônica em espanhol foi da Bolívia, e eu estudei lá no segundo ano do segundo grau também, e ainda vou lá pra visitar família. Você tem muito contato com a cultura então? Com a cultura boliviana uma parte, por que a cultura é uma questão de convívio, e não convivia lá, apenas me comunicava com as pessoas, com a minha irmã que mora lá, mais essa parte de comunicação não tanto. E você percebeu algum costume diferente? Da Bolívia para a Espanha por exemplo, totalmente, e muito, uma das coisas que me chama a atenção para mim por exemplo é a culinária, e faz parte do dia dia de qualquer pessoa, a gastronomia em si, o que as pessoas comem, o que o lugar produz. Tem toda a diferença e algumas semelhanças também. Entre regiões da Espanha também que eu morei é diferente, a Espanha é um país pluricultural, igual a Bolívia, inclusive quando eu estive no país, eles mudaram o nome da Bolívia para Estado Pluricultural por que realmente eles tem umas regiões, que tem influências indígenas, espanholas. Eu falo só os lugares que eu já morei, como em Santa Cruz na Bolívia, e em Barcelona na região de Catalunha, na Espanha, não é das mais castellanas, mas também temos contato com Granada, Madrid, Toledo, Galiza onde moram alguns amigos. Paraguai também já visitei."

7. Como a população destes países vê a cultura brasileira?
"No geral, é uma coisa assim que cada lugar tem uma característica própria, mas como eles vêem é bem geral a percepção, eles vêem a gente como pessoas muito simpáticas, bonitas, animadas, até por que ligam muito a questão do carnaval, futebol, feijoada e café, eles acham que todo mundo toma café aqui, então são essas as imagens que eles têm, nós temos uma boa imagem nesses países. É uma imagem muito estereotipada? Sim, é muito estereotipada. Até por que nós também temos uma visão assim da Espanha, pensamos que é só tourada e flamenco, no entanto, são poucos lugares onde tem isso."


"Minhocão" na UnB
8. Qual um fato, ou curiosidade que marcou a sua visita nestes lugares?
"Sim, por exemplo, na Espanha, uma coisa que me marcou muito, inclusive eu fiquei até com antipatia no início, mas é simplesmente por falta de conhecimento dos costumes, não só na Espanha, mas também em outros países europeus, o nosso jeito latinoamericano é muito cordial, gostamos muito de servir aos outros e eu não notei isso na Espanha, França ou Inglaterra, e isso me chocou, quando eu ia a um restaurante, e eu fazia um pedido por garçom eu notava que ele não tinha a menor paciência ou gentileza, então ele perguntava "¿qué va a querer?", rápido e seco, com uma entonação que parecia grosso, de forma diferente, e quando eu tenho um costume meu, uma coisa diferente, eu interpretava dentro daquilo que eu estou acostumada, então o dono da onde eu estava hospedada ou não gostavam de mim ou dos brasileiros, mas não era nada disso. Aqui no Brasil quando você que a pessoa é estrangeira você dá mais atenção, eles não fazem nada disso, até por que lá tem um monte de estrangeira, por que na Europa eles viajam muito. Na verdade, eles são sérios, a gente é mais sorridente, é o nosso jeito. Hoje em dia eu já não vejo mais dessa forma, foram anos até eu me acostumar e principalmente entender."

9. No ano de 2010, foi implantado nas escolas públicas do Distrito Federal o ensino do espanhol no currículo das escolas pela lei 11.161, o que você acha dessa iniciativa? Foi tarde?
"Não sei dizer se foi tarde, tudo isso foi resultado de um longo processo, pra você conseguir isso demora, como um projeto de lei. Eu acho positivo, por que se você não coloca como lei, os recursos para a educação já são reduzidos, então muitas escolas não oferecem não é por que não querem, é por causa dos recursos limitados, e não podem oferecer tudo, se não colocar como obrigatório, eles não vão oferecer por essa falta de recursos. O inglês e o espanhol são duas línguas importantes, não tem como oferecer apenas uma, foi muito positivo colocar como lei por que é uma maneira de garantir o direito da comunidade, dos alunos."

10. Quais os fatores importantes que levam o estudante a ter a necessidade de estudar o espanhol como língua estrangeira?
"Para o brasileiro, é importante estudar o espanhol, primeiro pelo contexto que nós estamos rodeados de países que são de língua espanhola, temos oportunidade de trabalho em língua espanhola, na área cultural, turismo, então tudo isso você acaba encontrando uma aplicação da língua. Muitas pessoas podem falar que se entendem, por que são línguas parecidas [português e espanhol], só que para um uso profissional, negócios, relações acadêmicas, culturais e para isso tipo de relação não basta você saber se comunicar razoavelmente, esse tipo de relação necessita de uma comunicação plena, e é importante você saber com quer você vai negociar com o seu interlocutor, você precisa saber a língua dele, a cultura dele para que você tenha um maior proveito dessa relação então eu acho que é um interesse para que tenha uma qualidade nas relações de negócios. Com o 'portunhol' a sua comunicação estará prejudicada, em questões de negócios, acadêmicos, tudo tem de ter qualidade. Fora isso, aprender uma língua estrangeira é muito importante para qualquer pessoa, você amplia a sua visão, você aumenta a sua capacidade de relacionamento, você não fica só com a sua visão única, com uma forma de ser, você pode ver novas formas de se expressar e de se comportar. Isso que você falou é importante, muitos questionaram: por que abordar cultura hispânica em Brazlândia? E esse é um dos nossos objetivos. Quanto maior a sua capacidade, maior o seu alcance e hoje em dia você pode viajar muito sem sair do lugar inclusive, há uma tecnologia que permite isso, e nada te impede que você faça isso, tudo depende da sua comunicação com esses meios."


11. Qual a língua mais falada na América Latina? 
"Embora o Brasil seja muito grande, nos temos 19 países que falam espanhol na América Latina, o Brasil, fala Português, então eu acho que pela diversidade de países, está claro que é o espanhol, e não é uma questão assim: eles que aprendam o português, quanto mais você pode crescer a sua capacidade, é lucro para você, então é uma questão de você lutar pelo seu crescimento, ampliando a sua capacidade, é valido. Eu gostaria de conhece outras culturas inclusive, por eu acho que eu vou ganhar com isso."


12. Há algum lugar em Brasília que divulga a cultura em questão?
"Aqui em Brasília, mais pela internet eu vejo muito um país que promove muito a cultura e a língua é a Argentina, eu vejo em uma revista que eu assino, que eles oferecem muitos cursos, mas aqui em Brasília, eu não conheço instituições que promovam, acredito que tenha, aqui temos particularidade que nós temos comunidade de todos os países, por causa das embaixadas e cada embaixada têm a sua comunidade, mas são comunidades bem fechadas. Quando fui na embaixada da Bolívia eles me disseram que tem uma comunidade pequena, mas que trabalhe a difusão da cultura eu não ouço falar."


13. Qual a sua opinião a cerca do aprendizado do espanhol em relação ao inglês?
"A vantagem depende muito de cada pessoa, dos objetivos de cada pessoa que decide aprender uma língua ou outra. Se você vai se relacionar com pessoas fora da América, na Europa na Ásia, então o inglês é mais universal, mas as pessoas que pensam na América como os EUA, eles pensam muito no espanhol, interesse cultural  ou comercial,  já identificam o espanhol, por que a maioria dos países das Américas falam espanhol, então eu acho que a vantagem do espanhol em relação ao inglês para o brasileiro é que o espanhol é mais próximo ao português, mais isso não quer dizer que seja mais fácil."


OBS: Uma questão levantada pela professora no começo da entrevista, foi que a embaixada da Espanha oferece muitos cursos e oportunidade de bolsas, que inclusive ela já visitou outros países com auxilio de bolsas de estudo, ela também é professora de inglês, e não sentiu tal facilidade na época em que buscava por bolsas na embaixada americana.


14. Muitas pessoas deixam de estudar o espanhol com afinco, alegando que a língua é parecida com a nossa, o português, não tendo a necessidade de se dedicar para tal, o que você acha dessa situação?
"A questão não se restringe a estudar, para aprender a língua você tem que praticar, essa prática ela pode ser observando, fazendo exercícios em livros, mas isso não basta, estudo é você sentar e fazer exercícios e ficar lendo e isso não faz com que você aprenda 100% uma língua, para aprender 100% você tem que escutar e praticar, primeiro você tenta entender, e depois você tentar usar e vai aperfeiçoando. As pessoas quando elas estudam elas entendem o espanhol mais isso não significa que ela usem bem a língua, existem pessoas que estudam para ser professor de espanhol, eles ficam 4 anos, fazem um monte de matérias em espanhol e não aprendem, isso vendendo, lendo e fazendo trabalhos em espanhol todos os dias, e chegam no final desses 4 anos e estão falando 'portunhol', estão com um nível que esta longe de ser o ideal para um professor de espanhol, isso por que não é fácil aprender uma língua, mas muitas vezes é a maneira de como a pessoa esta aprendendo que não está adequada, por que ela pensa que só ler e ficar escrevendo vai fazer com que ela fale, o que faz você falar bem é usar essa língua constantemente, fazer ela fazer parte da sua vida, estar observando e utilizando estratégias de aperfeiçoamento constantemente e se fosse tão fácil aprender espanhol, todos que saíssem daqui estariam falando perfeitamente, e eu posso dizer que no máximo 5% saem daqui com um nível ideal."


OBS: Amanhã será postada a Parte II da entrevista com a professora Rosilei da UnB.

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