Gustavo Dudamel em um ensaio da Orquestra Jovem Simon Bolívar: gravações elogiadas no mundo todo e uma execução polêmica do Hino Nacional |
Luz Ramirez, de 11 anos, e Genesis da Silva, de 14, vivem em bairros pobres e assolados pelo crime em Caracas, a capital mais violenta da América do Sul: segundo as estatísticas oficiais, provavelmente maquiadas, há 130 assassinatos para cada 100 000 pessoas (o índice no Rio de Janeiro, por exemplo, é de 34 para cada 100 000). Luz é da favela de Antimano, e Genesis mora em Sarría, bairro onde imperam os traficantes. Ambas falam em seguir carreira na música. No subúrbio latino-americano típico, esse seria apenas um sonho irreal. Para Luz e Genesis, porém, trata-se de um plano factível.
Elas são revelações de um projeto social que, há mais de trinta anos, vem arrancando jovens da pobreza com o auxílio de Bach, Beethoven e Mozart. Atendidas pelo Sistema Nacional de Orquestras Juvenis e Infantis da Venezuela – mais conhecido simplesmente como El Sistema –, as duas garotas estão bem avançadas no aprendizado de seus instrumentos. Luz é primeiro-violino de uma orquestra do Centro Acadêmico Infantil de Montalbán. Genesis toca clarinete no Núcleo Infantil de Sarría, e seu talento despertou a atenção do clarinetista venezuelano Jorge Montilla – que, radicado nos Estados Unidos, visita seu país natal periodicamente para dar aulas a alunos que considera promissores.
Criado em 1975 pelo maestro e economista José Antonio Abreu, o Sistema conta hoje com 250 000 estudantes em toda a Venezuela, 90% deles vindos de comunidades carentes. Seus objetivos são sociais – a música serve para ajudar crianças e adolescentes em situação precária –, mas o projeto também alcançou um notável sucesso artístico, formando artistas que tocam nas melhores orquestras do mundo – o celebrado maestro Gustavo Dudamel é seu mais reluzente garoto-propaganda. Na Venezuela cada vez mais caótica e autoritária de Hugo Chávez, o Sistema é uma rara instituição que merece ser copiada em outros países. "É o maior acontecimento da música clássica no mundo inteiro", já disse o maestro inglês Simon Rattle, diretor artístico da Filarmônica de Berlim.
Retirado da Revista Veja
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