De braços abertos às margens do Pacífico, a estátua do Cristo construída com generosa doação da construtora brasileira Odebrecht pode ser vista de vários pontos de Lima, a capital peruana. Iluminada, medindo 37 m de altura (a do Rio tem 38 m), a estátua foi ideia do ex-presidente Alan García, que deixou o cargo anteontem.
Foi, segundo ele, um presente de despedida à capital. E causou controvérsia desde sua instalação, em junho. A instalação de um símbolo associado ao Brasil em Lima foi vista como uma metáfora demasiadamente literal da crescente influência do Brasil na política e na economia peruanas por comentaristas políticos e personalidades da cultura.
A obra foi feita por um artista baiano e paga com doações do próprio García (R$ 56 mil), da Odebrecht (R$ 1,3 milhão) e de outras empresas brasileiras no Peru -todas com capacidade legal de fazer doações a campanhas políticas peruanas.
"Se é um presente do Brasil ao presidente, melhor colocá-lo na Interoceânica sul", disse Susana Villarán, prefeita esquerdista de Lima, citando a estrada em parte construída pela Odebrecht, que atravessa o Brasil e o Peru. O embaixador brasileiro em Lima até meados de julho, Jorge Taunay, disse que Villarán foi "descortês". O nome oficial do monumento é "Cristo do Pacífico", mas a imagem foi ironicamente apelidada de "Cristo do Roubo" -crítica aos escândalos de corrupção do governo García.
Contudo, a obra tem atraído visitantes e foi recebida com entusiasmo pela Igreja Católica. Na missa em homenagem à festa pátria peruana, anteontem, o arcebispo de Lima, Juan Luis Cipriani, incluiu a imagem nos pedidos solenes pelo futuro do país: "Senhor do Milares, Cristo do Pacífico, bendita Virgem Maria, proteja-nos e siga fazendo de nosso país uma pátria grande".
Polêmicas à parte, a presença brasileira parece ter uma percepção positiva. Pesquisa de julho da Ipsos Apoyo perguntou: que viagem do novo presidente Ollanta Humala mais pode trazer benefícios para o Peru? O Brasil aparece em segundo, com 21% das respostas. Em primeiro, os EUA (39%). Situação distinta é a do Chile, que tem forte investimento no Peru, mas um histórico de guerra e desconfiança: só 6% citaram esse país.
FLÁVIA MARREIRO
Folha de São Paulo
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